Do Heartland à Ilha das Américas
Um Ensaio sobre as Teorias Clássicas da Geopolítica e a Reconfiguração do Poder Global no Século XXI

Resumo
Este artigo examina um cenário hipotético em que os Estados Unidos, sob a liderança de Trump, se retiram da OTAN e reduzem seu apoio à Europa, permitindo assim uma conquista russa da Ucrânia e a subsequente expansão da influência de Moscou sobre a Eurásia, enquanto os EUA consolidam seu domínio sobre a América do Sul. Com base em teorias geopolíticas clássicas — especificamente as de Halford Mackinder, Alfred Thayer Mahan, Rudolf Kjellén e Friedrich Ratzel — o estudo analisa como esses referenciais podem elucidar a evolução das dinâmicas de poder e ambições territoriais em uma ordem global reconfigurada. A discussão ressalta a noção de Heartland eurasiático de Mackinder e sua importância estratégica, a ênfase de Mahan sobre o poder marítimo e o controle de rotas estratégicas, a visão de Kjellén do Estado como um organismo em expansão, e o conceito de Lebensraum de Ratzel como justificativa para a expansão territorial. O artigo também explora desenvolvimentos contemporâneos, como o acordo econômico EUA–Ucrânia e as ambições territoriais explícitas de Trump envolvendo a Groenlândia e o Canadá, à luz dessas teorias. Ao confrontar conceitos geopolíticos tradicionais com as relações internacionais atuais, o estudo busca esclarecer as possíveis implicações de tais mudanças para a estabilidade regional, a segurança global e o equilíbrio de poder, especialmente em relação às práticas neocoloniais emergentes na América Latina.
Introdução
Nos últimos anos, a dinâmica geopolítica envolvendo Estados Unidos, Rússia e Ucrânia tem despertado análises sob diferentes prismas teóricos. Este artigo examina os eventos recentes – pressupondo um cenário em que Donald Trump retire os EUA da OTAN e reduza o apoio à Europa, permitindo uma conquista russa da Ucrânia e a expansão da influência de Moscou sobre a Eurásia, enquanto os EUA consolidam seu domínio sobre a América do Sul – à luz de teorias clássicas da geopolítica. Tomam-se como referenciais as ideias de Halford Mackinder, Alfred Thayer Mahan, Rudolf Kjellén e Friedrich Ratzel. A proposta é avaliar imparcialmente como cada teoria pode elucidar os desdobramentos desse cenário hipotético, relacionando a expansão territorial russa na Eurásia e a retração estratégica dos EUA ao hemisfério ocidental.
Inicialmente, delinearemos a concepção de Mackinder sobre o Heartland (território central eurasiático) e o papel crucial da Europa Oriental e Ucrânia na busca pelo domínio global. Em seguida, discutiremos as ideias de Mahan relativas ao poder marítimo e ao controle de rotas estratégicas, considerando os impactos na balança de poder naval entre EUA, Rússia e outras potências marítimas como Reino Unido e Japão. Posteriormente, examinaremos a teoria orgânica do Estado de Kjellén, interpretando a estratégia expansionista russa como reflexo de um organismo estatal em busca de espaço vital. Na mesma linha, será explorado o conceito de “Lebensraum” de Ratzel e como a Rússia poderia justificar a expansão territorial com base em recursos e território. Por fim, o artigo conecta essas teorias ao contexto político atual, analisando as negociações diretas entre Washington e Moscou (à revelia da Ucrânia e Europa), a política dos EUA em relação a regimes autoritários latino-americanos e a noção de uma divisão hemisférica de poder – a “Ilha das Américas” sob hegemonia norte-americana versus a Eurásia dominada pela Rússia. Considera-se, por último, a possibilidade de que tal arranjo geopolítico fomente o fortalecimento de governos autoritários globalmente, em vez de contê-los, alterando os paradigmas da ordem mundial liberal.
O Heartland de Mackinder: Ucrânia, Eurásia e Domínio Global
Halford J. Mackinder, geógrafo britânico e pioneiro da geopolítica, propôs no início do século XX a célebre Teoria do Heartland. Mackinder dividiu o mundo em zonas geoestratégicas e
identificou o Heartland – a massa continental central da Eurásia – como o “pivô geográfico da história” [5]. Sua máxima mais famosa sintetiza essa visão: “quem governa a Europa Oriental comanda o Heartland; quem governa o Heartland comanda a Ilha-Mundo; quem governa a Ilha-Mundo comanda o mundo” [5]. Europa Oriental e, em particular, a região da atual Ucrânia, ocupam papel chave nessa fórmula. Isso porque, para Mackinder, a Europa Oriental funciona como porta de entrada para o Heartland, fornecendo acesso a recursos e posição estratégica para projeção de poder continental [5].
Aplicando essa teoria ao nosso cenário, a conquista da Ucrânia e países do leste europeu pela Rússia teria profundas implicações geopolíticas. Do ponto de vista mackinderiano, tal conquista fortaleceria enormemente a posição russa no Heartland, agregando manpower (população) e recursos industriais e agrícolas da Ucrânia à sua base de poder [5]. De fato, Mackinder argumentava que o controle do Heartland conferia vantagens geoestratégicas formidáveis – um vasto “forte natural” terrestre protegido de invasões navais e rico em recursos de trigo, minérios e combustíveis [5]. Assim, se Moscou lograsse incorporar a Ucrânia (conhecida por seu solo fértil e produção de grãos, além de reservas minerais) e estender sua influência sobre a Europa Oriental, a Rússia consolidaria o Heartland sob seu domínio direto. Nesse contexto, a ausência dos EUA (retirados da OTAN e menos engajados na Europa) removeria um importante obstáculo ao predomínio russo na região.
Com a Eurásia central e oriental sob influência russa, poder-se-ia caminhar rumo à realização do pesadelo geopolítico descrito por Mackinder para as potências marítimas ocidentais: uma potência continental hegemônica capaz de projetar poder tanto para a Europa quanto para a Ásia. O próprio Mackinder alertava que, se uma potência do Heartland obtivesse acesso adicional ao litoral oceânico – ou seja, combinasse poder terrestre com frente marítima significativa – constituiria um “perigo” à liberdade mundial [5]. No caso considerado, além de avançar sobre a Europa Oriental, a Rússia já possuiria saídas marítimas estratégicas (por exemplo, no Mar Negro, via Crimeia, e no Báltico, via Kaliningrado ou Estados bálticos se os influenciasse). Dessa forma, o domínio da Ucrânia reforçaria a posição russa no Mar Negro e facilitaria projeção para o Mediterrâneo oriental, ampliando sua frente oceânica. Sob a ótica mackinderiana, isso potencialmente transformaria a Rússia na potência dominante da “Ilha Mundo” (a massa conjunta da Europa, Ásia e África), desequilibrando a ordem geopolítica global [5]
Vale notar que, historicamente, a doutrina de Mackinder influenciou estratégias de contenção: tanto no período entre-guerras quanto na Guerra Fria, buscou-se evitar que uma única potência controlasse o Heartland e a Europa Oriental. A OTAN, por exemplo, pode ser vista como um instrumento para impedir o avanço soviético/russo na Europa, alinhado ao imperativo de Mackinder de “conter o Heartland”. Logo, se os EUA abandonassem tal papel – saindo da OTAN e aceitando tacitamente a esfera de influência russa na Eurásia – estaríamos assistindo a uma inversão dos princípios que guiaram a política ocidental por décadas. Em suma, sob a teoria de Mackinder, a conquista russa da Ucrânia e além representaria a chave para a Rússia comandar o Heartland e, potencialmente, desafiar a hegemonia global, especialmente em um cenário em que os EUA se autorrestrinjam ao Hemisfério Ocidental.
O Poder Marítimo de Mahan e a Balança Naval entre Ocidente e Oriente
Enquanto Mackinder enfatizava o poder terrestre continental, Alfred Thayer Mahan, estrategista naval norte-americano do século XIX, destacou o papel crucial do poder marítimo no domínio global. Em sua obra The Influence of Sea Power upon History (1890), Mahan estudou o exemplo do Império Britânico e concluiu que o controle dos mares pavimentou o caminho para a supremacia britânica como potência mundial [10]. Ele argumentou que uma marinha forte e o domínio das rotas marítimas estratégicas eram fatores decisivos para projeção de poder militar, político e econômico. Sua doutrina pode ser resumida nos seguintes pontos: (1) os Estados Unidos devem aspirar a ser uma potência mundial; (2) o controle dos mares é necessário para alcançar esse status; (3) tal controle se obtém por meio de uma frota poderosa de navios de guerra [17]. Em outras palavras, para Mahan, quem dominar as rotas marítimas e possuir superioridade naval terá condições de influenciar os destinos globais, assegurando comércio, suprimentos e capacidade de movimentar forças militares rapidamente.
No cenário proposto, em que os EUA se retraem militarmente da Europa e possivelmente do palco eurasiático, as ideias de Mahan levantam questionamentos sobre a distribuição do poder marítimo e seus efeitos. Tradicionalmente, a US Navy atua globalmente garantindo a liberdade de navegação e dissuadindo desafios nos principais mares (Atlântico, Pacífico, Índico, etc.). Uma retirada dos EUA da OTAN poderia sinalizar também uma redução de sua presença naval no Atlântico Nordeste, Mar Mediterrâneo e outros pontos próximos à Eurásia. Em tal caso, quem preencheria esse vácuo naval? A Rússia, apesar de potência principalmente terrestre, vem tentando modernizar sua marinha e tem interesses específicos – por exemplo, consolidar seu domínio no Mar Negro e manter presença no Mediterrâneo (base naval em Tartus, Síria). O Reino Unido, potência marítima europeia histórica, permaneceria alinhado aos EUA porém, sem o respaldo militar americano na Europa, ver-se-ia
potencialmente sobrecarregado para conter sozinha uma marinha russa mais assertiva em águas europeias. O Japão, outro ator marítimo significativo aliado aos EUA, preocupa-se com o equilíbrio naval no Pacífico; sem o engajamento pleno dos EUA, Tóquio poderia ser compelida a expandir seu próprio poder naval para conter tanto a Rússia no extremo oriente (que mantém uma frota no Pacífico) quanto, especialmente, a crescente marinha chinesa.
Segundo o pensamento de Mahan, rotas marítimas estratégicas e choke points (estreitos e canais cruciais) tornam-se prêmios disputados nesse jogo de poder. Com os EUA concentrando-se nas Américas, poderíamos imaginar Washington reforçando o controle sobre o Canal do Panamá e vias do Caribe – revivendo uma política de “Golfo Americano” no Atlântico Ocidental e Pacífico Oriental. De fato, indicativos dessa orientação surgem em declarações atribuídas a Trump, que chegou a sugerir reaver controle direto sobre o Panamá, transformar o Canadá em um estado norte-americano, e até “anexar” a Groenlândia por sua importância geopolítica ártica [18]. Essas aspirações refletem uma busca por assegurar posições marítimas vantajosas próximas ao continente americano.
Em contrapartida, na ausência norte-americana do Atlântico Leste e Mediterrâneo, a Rússia teria caminho livre para projeção regional marítima. Isso poderia incluir desde o uso irrestrito do Mar Negro (após dominar a Ucrânia, garantindo acesso total à Crimeia e portos ucranianos), até uma maior influência no Mediterrâneo Oriental via Síria e parceria com países como Irã ou Egito. O Mar Báltico também se tornaria área de interesse ampliado russo, pressionando os países litorâneos e talvez reduzindo a tradicional supremacia naval local da OTAN. Entretanto, vale notar que mesmo com essas expansões regionais, a Rússia carece de uma marinha de águas azuis comparável à dos EUA; logo, globalmente seu impacto marítimo inicial seria limitado sem alianças.
Um aspecto importante das teorias de Mahan é que o poder naval é um contrapeso ao poder terrestre do Heartland. Assim, ainda que a Rússia dominasse a massa continental eurasiática, a permanência do poderio naval norte-americano sobre os oceanos poderia impedir um domínio global completo por parte de Moscou. No entanto, se os EUA voluntariamente restringirem seu alcance naval às Américas, abdicarão de influenciar o equilíbrio de poder nos mares adjacentes à Eurásia. Com isso, a balança de poder marítima tenderia a se deslocar em favor de atores euroasiáticos regionais. Reino Unido e Japão, aliados tradicionais dos EUA, poderiam intensificar suas capacidades navais para defender interesses regionais – o Reino Unido resguardando o Atlântico Norte e o Mar do Norte, e o Japão patrulhando o Pacífico Noroeste – mas ambos teriam limitações orçamentárias e estruturais para suprir integralmente a ausência da superpotência americana.
Consequentemente, a visão de Mahan sugere que a retirada dos EUA do cenário extrarregional enfraqueceria o regime marítimo liberal, possivelmente abrindo espaço para
que potências revisionistas contestem rotas antes asseguradas (por exemplo, Rússia e China explorando menos oposição nas rotas do Ártico e do Indo-Pacífico, respectivamente). Em resumo, a hegemonia naval fragmentar-se-ia, e o controle de mares estratégicos entraria em disputa, reconfigurando a influência relativa de EUA, Rússia e aliados marítimos como Reino Unido e Japão.
Kjellén e o Estado como Organismo Vivo: a Expansão Russa como Necessidade Orgânica
Outra lente teórica útil para interpretar a postura geopolítica russa é a de Rudolf Kjellén, cientista político sueco do início do século XX, que concebeu o Estado como um organismo vivo. Kjellén, que inclusive cunhou o termo “geopolítica”, foi influenciado pelas ideias de Friedrich Ratzel e pelo darwinismo social, argumentando que os Estados nascem, crescem e decaem analogamente a seres vivos [13]. Em sua obra Staten som livsform (O Estado como Forma de Vida, 1916), ele sustentou que os Estados possuem uma dimensão orgânica além da jurídica e que “assim como qualquer forma de vida, os Estados devem expandir-se ou morrer” [14]. Essa expansão não seria motivada meramente por conquista agressiva, mas vista como um crescimento necessário para autopreservação do organismo estatal [14]. Em complemento, Kjellén ecoou a “lei dos espaços em expansão” de Ratzel ao afirmar que Estados grandes se expandem à custa dos pequenos, sendo apenas uma questão de tempo até que os grandes reinos preencham os espaços disponíveis [14]. Ou seja, na perspectiva orgânica, Estados vigorosos tendem a incorporar territórios vizinhos menores, consolidando-se territorialmente tal qual um organismo incorporando nutrientes.
Ao aplicar essa teoria à estratégia da Rússia contemporânea, podemos interpretar as ações de Moscou – incluindo a invasão da Ucrânia e a ambição de restaurar sua esfera de influência na Eurásia – como expressão de um impulso orgânico de expansão. Para um estrategista influenciado por essa escola, a Rússia (vista como organismo estatal com longa história imperial) precisa expandir seu território e influência para garantir sua sobrevivência e segurança. A perda de controle sobre espaços que outrora fizeram parte do Império Russo ou da União Soviética (como a própria Ucrânia, o Cáucaso ou a Ásia Central) pode ser percebida pelas elites russas como uma atrofia do organismo estatal, tornando-o vulnerável. Assim, a reincorporação desses territórios – seja direta (anexação) ou indireta (vassalagem política) – equivaleria a restaurar membros perdidos ou fortalecer órgãos vitais do corpo estatal. De fato, argumentos oficiais russos muitas vezes retratam a Ucrânia como parte intrínseca da “historicidade russa”, negando-lhe plena identidade separada – narrativa que se alinha à ideia de que a expansão russa ali seria natural e necessária ao Estado russo (visto como englobando também os russófonos fora de suas fronteiras atuais).
Kjellén forneceria, portanto, uma justificativa teórica para a expansão territorial russa como fenômeno orgânico. A Rússia, como grande potência, inevitavelmente buscaria se expandir às custas de vizinhos menores (Ucrânia, Geórgia, Estados Bálticos, etc.), pois assim dita a tendência dos “grandes espaços se organizarem” em detrimento dos pequenos [14]. Essa visão pode ser identificada em doutrinas russas contemporâneas que valorizam zonas de influência e a noção de que países vizinhos devem gravitar em torno de Moscou para que a ordem natural seja mantida. A própria ideia da “Eurásia” unida sob liderança russa (defendida por pensadores russos modernos) carrega ecos dessa concepção orgânica de espaço vital e de expansão como sinal de vitalidade do Estado.
Contudo, a teoria de Kjellén também alerta para o fenômeno do “superdimensionamento imperial” (imperial overstretch), caso um Estado ultrapasse seus limites de coesão interna ao se expandir exageradamente [14]. Ele reconhecia que estender demasiadamente as fronteiras pode aumentar atritos e vulnerabilidades, tornando difícil manter a coesão – um organismo muito grande pode carecer de integração funcional. No contexto russo, isso sugere que embora a expansão seja vista como necessária, há riscos se a Rússia tentar englobar mais do que pode governar eficazmente. Conquistar a Ucrânia e submeter a Europa Oriental, por exemplo, poderia sobrecarregar economicamente e militarmente o Estado russo, especialmente se enfrentasse resistências ou tivesse que administrar populações hostis. Todavia, no cenário hipotético que adotamos (EUA isolados e Europa enfraquecida), a Rússia poderia calcular que os benefícios orgânicos da expansão (território, recursos, profundidade estratégica) superariam os custos, já que a interferência externa seria limitada. Assim, pela lente de Kjellén, a Rússia expansionista comporta-se como um organismo seguindo seu instinto de sobrevivência e engrandecimento, absorvendo vizinhos mais fracos; mas tal processo não é isento de desafios, exigindo que o “organismo Rússia” consiga digerir esses novos espaços para não colapsar sob seu próprio peso.
Ratzel e o Lebensraum: Recursos, Território e a Justificativa para Expansão
Paralelamente à visão orgânica de Kjellén, a teoria de Friedrich Ratzel oferece outra base conceitual para entender a expansão russa: o conceito de Lebensraum (espaço vital). Ratzel, geógrafo alemão do final do século XIX, propôs que a sobrevivência e desenvolvimento de um povo ou nação dependiam criticamente do espaço físico e dos recursos disponíveis. Influenciado por ideias darwinistas, ele aplicou a noção de “sobrevivência do mais apto” às nações, argumentando que as sociedades humanas precisam conquistar território e recursos para prosperar, e que as civilizações mais “fortes” e aptas naturalmente prevalecerão sobre as mais fracas [12]. Em 1901, Ratzel cunhou o termo Lebensraum para descrever essa necessidade de “espaço vital” como fator geográfico no poder nacional [15].
Posteriormente, essa ideia seria adotada – e deturpada de forma extrema – pela ideologia nazista para justificar as agressões da Alemanha na Europa. No entanto, o cerne do conceito ratzeliano é que a expansão territorial é essencial para a sobrevivência e crescimento de um Estado, especialmente para garantir alimentos, matérias-primas e espaço para sua população [12].
Ao examinar a postura da Rússia sob essa ótica, podemos ver diversas narrativas que evocam a lógica do Lebensraum. A Rússia é o maior país do mundo em extensão, porém grande parte de seu território é de clima adverso (tundra, taiga) e relativamente despovoado na Sibéria. Por outro lado, regiões adjacentes como a Ucrânia possuem terras agriculturáveis de alta qualidade (tchernozion - solo negro), densidade populacional eslava significativa e recursos naturais adicionais (carvão no Donbass, por exemplo). Uma justificativa implícita para a expansão russa poderia ser a busca por recursos e terras férteis suplementares para assegurar sua autossuficiência e poder – exatamente como Ratzel descreveu que nações vigorosas fazem. Registros históricos mostram que Ratzel ressaltava a primazia agrária: ele acreditava que novos territórios deveriam ser colonizados por agricultores, fornecendo base alimentar para a nação [12]. A Ucrânia, historicamente chamada de “celeiro da Europa”, encaixa-se perfeitamente nessa visão de conquista para ganho de sustento e riqueza agrícola.
Além disso, Ratzel via a geografia como condicionante do destino das nações – povos adaptados a certos habitats buscam ampliá-los se almejam crescer. No discurso russo contemporâneo, há frequentemente menção à necessidade de garantir segurança e profundidade territorial frente à OTAN, ou de unir povos irmãos (russos e russófonos) num mesmo espaço político. Tais argumentos podem ser lidos como uma tradução moderna do Lebensraum: a ideia de que a nação russa, para estar segura e florescer, deve controlar um espaço maior, englobando zonas tampão e recursos críticos. Esse “espaço vital” russo abrangeria naturalmente a Ucrânia e outras ex-repúblicas soviéticas, vista a interdependência histórica e infraestrutural. Ratzel enfatizava que povos migravam e se expandiam quando sua pátria original já não comportava suas necessidades ou aspirações [12]. Embora a Rússia atual não sofra pressão demográfica (pelo contrário, enfrenta declínio populacional), sob uma lógica de grande potência percebe-se, sim, um sentimento de insuficiência geopolítica ao terem perdido influência sobre áreas consideradas estratégicas. Logo, reconquistar essas áreas seria recuperar o “habitat” necessário para a nação russa prosperar e se sentir segura.
É importante mencionar que, na formulação de Ratzel e Kjellén, a busca por Lebensraum ou expansão orgânica não é moralmente qualificada – é tratada como um processo natural na política de poder. Assim, no plano discursivo, a Rússia pode evitar discursos abertamente agressivos e recorrer a justificativas “naturais”: por exemplo, alegar que precisa ocupar a
Ucrânia para se defender (security space) ou para reunificar povos (espaço cultural e histórico comum). Por baixo dessas justificativas, porém, ressoa o imperativo geopolítico de obter mais território e recursos como garantia de sobrevivência nacional, algo consonante com a teoria de Ratzel. De fato, a Realpolitik russa frequentemente prioriza controle de recursos energéticos (gás, petróleo) e rotas de escoamento. Expandir sua influência sobre a Eurásia central também significaria controlar oleodutos, gasodutos, corredores logísticos – elementos essenciais do Lebensraum moderno entendido como acesso a recursos e infraestrutura vital.
Em suma, a Rússia, ao conquistar a Ucrânia e estender-se na Eurásia, poderia invocar na prática o conceito de Lebensraum: apresentando sua expansão não como mero imperialismo, mas como uma necessidade de garantir terras e recursos indispensáveis ao seu povo e de corrigir a “injustiça” de um espaço vital diminuído pelas perdas territoriais pós-Guerra Fria. As teorias de Ratzel e de Kjellén em conjunto pintam um quadro onde a expansão russa surge quase como lei natural – o grande Estado retomando espaço para assegurar sua sobrevivência e desenvolvimento, às custas dos menores ao redor.
Trump, OTAN e a ameaça de retirada norte-americana
Uma das mudanças mais alarmantes com a volta de Trump ao poder é a relação tensa com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Trump há muito critica os aliados por não cumprirem metas de gasto militar, chegando a ameaçar, já em seu primeiro mandato, retirar os EUA da aliança caso os membros não aumentassem suas contribuições [2]. Essa ameaça, inicialmente vista com ceticismo, tornou-se concreta após sua reeleição, levando os aliados europeus a considerar seriamente a possibilidade de terem que se defender sem o apoio norte-americano [1]. De fato, Trump sugeriu em entrevistas pós-reeleição que os EUA só permaneceriam na OTAN se os aliados “pagassem suas contas” – caso contrário, ele “pensaria seriamente” em sair [2]. Tais declarações reforçaram o alerta de que os EUA poderiam não honrar o compromisso de defesa mútua da OTAN, justamente em um momento de ameaça russa contínua devido à guerra na Ucrânia [1].
Do ponto de vista teórico, essa postura de retração americana evoca a clássica tensão entre poder marítimo e poder terrestre. Alfred Thayer Mahan enfatizava que o poder global dos EUA derivava em grande parte de sua superioridade naval e de alianças que garantiam o controle de rotas marítimas estratégicas [9]. A OTAN, desde 1949, serviu não apenas para deter o avanço terrestre soviético na Eurásia, mas também para assegurar a presença marítima dos EUA no Atlântico Norte e Mediterrâneo – um elemento fundamental segundo Mahan. Por sua vez, Halford Mackinder alertava que o equilíbrio de poder mundial depende do controle do “Heartland” eurasiático (a região central da Eurásia). A retirada ou desengajamento dos EUA (uma potência marítima) dessa região poderia abrir espaço para que uma potência continental (como a Rússia) expandisse sua influência no leste europeu, desequilibrando a balança de poder [3]. Em outras palavras, ao ameaçar sair da OTAN, Trump coloca em risco o princípio de “containment” que impedia o domínio russo sobre a Europa Oriental – algo que Mackinder veria como um perigoso deslocamento do poder global em favor da potência do Heartland.
Adotando um tom imparcial, observa-se que os países europeus reagiram a essa nova realidade com medidas de precaução. Relatórios estratégicos já calculam o custo de uma defesa europeia autônoma: seriam necessários centenas de milhares de soldados adicionais e investimentos de centenas de bilhões de euros caso os EUA deixem de garantir a segurança do continente [1]. A dependência europeia do poder militar americano é significativa e, sem ele, haveria necessidade de um grande reforço nas Forças Armadas europeias [1]. Essa mobilização reflete, na prática, a antecipação de um vácuo de poder deixado pelos EUA – cenário em que a teoria de Mackinder (sobre a primazia do Heartland e a vulnerabilidade da “crescente externa” insular, onde se encontra a Europa ocidental) volta a ter relevância.
O acordo econômico EUA–Ucrânia: minerais estratégicos em troca de apoio?
Outra novidade do segundo mandato de Trump é a forma inédita e transacional com que Washington vem lidando com a guerra na Ucrânia. Em vez de enfatizar garantias de segurança e alianças, o governo Trump propôs um acordo comercial com a Ucrânia focado na exploração de minerais estratégicos, atrelando o apoio americano a um benefício econômico direto. Segundo fontes próximas às negociações, EUA e Ucrânia estão prestes a assinar um pacto para dividir as receitas da exploração de recursos minerais críticos em território ucraniano [19]. Materiais como titânio, lítio, terras raras e urânio – vitais para indústrias de alta tecnologia e defesa – estariam no cerne desse acordo [6]. Pelo rascunho conhecido, a Ucrânia destinaria 50% dos lucros de novos empreendimentos minerais a um fundo controlado pelos EUA, que reinvestiria parte dos recursos na reconstrução do próprio país [6] [19].
Chama a atenção que o pacto não inclui garantias explícitas de segurança para Kiev, apesar de a Ucrânia continuar sob ameaça militar direta da Rússia [19]. Em essência, a administração Trump oferece um apoio financeiro e investimento econômico em troca de participação nos recursos naturais ucranianos, mas sem se comprometer formalmente com a defesa da Ucrânia em caso de nova ofensiva russa [19]. Autoridades americanas argumentam que essa parceria econômica já seria suficiente para “assegurar os interesses ucranianos”, pois daria aos EUA incentivos próprios para desejar a estabilidade da Ucrânia [19]. “O que poderia ser melhor para a Ucrânia do que estar em uma parceria econômica com os Estados Unidos?”, afirmou Mike Waltz, assessor de segurança nacional dos EUA, defendendo a proposta [19].
Analistas, porém, avaliam o acordo de forma dividida. Para alguns, trata-se de uma forma de exploração econômica num momento de fragilidade da Ucrânia – comparando a exigência de compartilhar riqueza mineral em plena guerra a um esquema de “proteção mafiosa” [19]. Steven Cook, do Council on Foreign Relations, classificou a oferta como “extorsão” e a politóloga Virginia P. Fortna observou que cobrar recursos de um país sob invasão assemelha-se a práticas predatórias [19]. Joseph Nye acrescenta que é uma estratégia de ganho de curto prazo possivelmente “desastrosa no longo prazo” para a credibilidade americana, espelhando a abordagem transacional que Trump adotou até mesmo com aliados próximos em outros contextos [19]. Por outro lado, há quem veja alguma vantagem futura para Kiev: o jornalista Pierre Briançon sugere que ao menos esse acordo alinha os interesses comerciais americanos ao futuro da Ucrânia, o que poderia, em tese, manter os EUA envolvidos na prosperidade ucraniana a longo prazo [19]. Lembra-se, inclusive, que o próprio presidente Zelensky propôs no ano anterior a ideia de compartilhar recursos naturais com os EUA para aproximar os interesses dos dois países [19].
Sob a ótica das teorias geopolíticas, esse acordo ilustra uma guinada para o pragmatismo econômico nas relações internacionais, aproximando-se de conceitos propostos por Kjellén. Rudolf Kjellén, que cunhou o termo “geopolítica”, via o Estado como um organismo territorial que busca assegurar sua sobrevivência por meio da autossuficiência e do controle de recursos estratégicos [4]. A exigência de Trump de participação nos recursos ucranianos para continuar apoiando o país reflete uma lógica de autarquia e interesse nacional direto – isto é, a política externa servindo antes de tudo para reforçar a posição econômica e material dos EUA. Essa visão contrasta com a abordagem cooperativa tradicional, mas alinha-se à ideia de Kjellén de que Estados poderosos tendem a transformar relações internacionais em oportunidades de ganho próprio, garantindo acesso a matérias-primas vitais. Da mesma forma, Friedrich Ratzel argumentava que os Estados possuem uma “propensão a expandir suas fronteiras conforme suas capacidades”, buscando espaço vital (Lebensraum) e recursos para sustentar seu desenvolvimento [11]. O pacto EUA–Ucrânia, ao condicionar ajuda militar/econômica à obtenção de vantagens tangíveis (metade dos lucros minerais), é reminiscente dessa perspectiva de Ratzel: os EUA, como potência em ascensão econômica, expandem sua influência econômica sobre o território ucraniano como um organismo que se estende para obter recursos necessários ao seu bem-estar. Trata-se, portanto, de uma forma de expansionismo econômico em detrimento de compromissos puramente ideológicos ou de segurança coletiva.
Negociações de paz sem a Ucrânia e legitimidade do acordo
Outro ponto controverso é a maneira como as negociações de paz entre Rússia e Ocidente vêm sendo conduzidas sob a gestão Trump. Desde sua posse, o presidente americano passou a se engajar diretamente com Moscou na busca de um cessar-fogo, deliberadamente mantendo o governo ucraniano à margem das conversas iniciais [6]. Trump manifestou o desejo de “deixar Zelensky fora da conversa” e também excluiu a União Europeia de qualquer influência no processo [6]. Essa estratégia de negociação sem a presença do principal interessado – a própria Ucrânia – levanta sérias questões sobre a legitimidade e sustentabilidade de qualquer acordo resultante.
Historicamente, acordos de paz firmados sem a participação direta de um dos lados em conflito tendem a enfrentar problemas de implementação e aceitação.
A exclusão da Ucrânia na fase decisória traz à tona o problema da garantia. Como visto, o acordo emergente carece de garantias formais de segurança dos EUA para a Ucrânia. Isso implica que, após a assinatura, nada impedirá a Rússia de lançar uma nova ofensiva se julgar conveniente, sabendo que os EUA não se comprometeram em defendê-la militarmente. Especialistas já alertam que um cessar-fogo sem proteção robusta pode ser apenas uma pausa para rearmamento russo, tornando o conflito “congelado” temporariamente e potencialmente retomado no futuro próximo. A comunidade estratégica europeia manifestou preocupação similar: sem a dissuasão americana, o risco de novas agressões russas na região aumenta consideravelmente [1]. A Dinamarca, por exemplo, divulgou relatórios de inteligência alertando para possíveis ataques russos em breve, o que levou países vizinhos a acelerarem planos de defesa independente [1].
A legitimidade desse acordo de paz assimétrico (negociado sem a Ucrânia plenamente à mesa e sob coerção econômica) também é questionável do ponto de vista jurídico e moral. Fere-se o princípio de autodeterminação ao impor a um país soberano termos decididos por grandes potências – algo que remete a capítulos sombrios da diplomacia, como o Acordo de Munique de 1938, quando potências definiram o destino da Tchecoslováquia sem sua anuência. No caso atual, a Ucrânia acabaria por assinar o acordo, mas numa posição de fraqueza, levantando dúvidas sobre quão durável seria tal compromisso.
Sob o olhar de Mackinder, a saída da Ucrânia do campo de batalha sem garantias significa, na prática, admitir uma maior influência da Rússia (potência do Heartland) sobre o leste europeu. Isso altera o equilíbrio na Eurásia de forma potencialmente duradoura. Além disso, o fato de grandes potências negociarem por sobre as cabeças de um país menor evoca a lógica imperial do século XIX e início do XX, na qual impérios decidiam entre si as divisões de territórios alheios – um comportamento que Mackinder via como provável em um mundo de “sistema fechado”. Com o mundo inteiro já ocupado por Estados, Mackinder previu que as potências passariam a disputar influência dentro desse tabuleiro consolidado, não raro subjugando estados menores para obter vantagem [3]. A negociação EUA-Rússia sobre a Ucrânia, sem a devida representação ucraniana, exemplifica esse tipo de dinâmica neo-imperial em pleno século XXI.
Também merece atenção a consonância com as ideias de Ratzel e Kjellén: ambos viam os estados menores como facilmente relegados à condição de satélites ou até “organismos parasitários” na órbita de estados maiores. Kjellén falava da vulnerabilidade intrínseca de estados com pouca profundidade territorial ou dependência econômica, que os tornava suscetíveis a pressões externas [4][20]. A Ucrânia, combalida pela guerra e dependente de ajuda externa, torna-se um exemplo concreto dessa vulnerabilidade teorizada: precisou ceder recursos estratégicos e aceitar termos discutidos à sua revelia para tentar garantir sua sobrevivência imediata. O acordo resultante, portanto, reflete um desequilíbrio de poder característico das relações internacionais hierárquicas descritas pelos teóricos clássicos da geopolítica.
Concessões territoriais implícitas e discurso público de Trump
Um ponto central e polêmico nas declarações de Trump acerca da guerra na Ucrânia é a insinuação de concessões territoriais à Rússia como parte da solução do conflito. Publicamente, Trump evitou condenar explicitamente a agressão russa e chegou a afirmar que considerava “improvável” que a Ucrânia consiga retomar todas as áreas ocupadas pelos russos [16]. Em debates e entrevistas, ele sugeriu que “se fosse presidente, a guerra terminaria em 24 horas”, insinuando que forçaria um entendimento entre Kiev e Moscou que provavelmente envolveria ceder algum território em troca de paz. Essa posição rompe com a política anterior dos EUA de não reconhecer nenhuma aquisição territorial feita pela força e alimenta especulações de que o eventual acordo de paz patrocinado por Trump legitimaria ao menos parte das conquistas russas desde 2014 (Crimeia, Donbass, e áreas tomadas na invasão de 2022).
As ações de seu governo corroboram essa interpretação. Conforme discutido, o acordo econômico foca na exploração de recursos naturais ucranianos, muitos dos quais localizados precisamente em regiões atualmente sob controle militar russo, como partes do Oblast de Zaporizhzhia, Donetsk, Lugansk e área do Mar de Azov [6]. Uma geóloga ucraniana, Hanna Liventseva, destacou que “a maioria desses elementos (minerais estratégicos) se encontra no sul do Escudo Ucraniano, principalmente na região de Azov, e a maioria desses territórios está atualmente invadida pela Rússia” [6]. Isso significa que, para viabilizar a exploração conjunta acordada, o controle "de facto" russo sobre essas áreas teria que ser reconhecido ou pelo menos tolerado no curto prazo. Em outras palavras, o pacto indireta e tacitamente aceita as conquistas territoriais russas, já que envolve repartir os lucros de recursos que, no momento, não estão acessíveis ao governo de Kiev.
Além disso, figuras do círculo próximo a Trump deram declarações explícitas sobre a possibilidade de cessão territorial. Mike Waltz, assessor de segurança nacional de Trump, afirmou publicamente que Zelensky talvez precise “ceder terra à Rússia” para acabar com a guerra [8]. Essa fala – divulgada em março de 2025 – confirma que a Casa Branca trumpista considera natural a ideia de a Ucrânia renunciar a partes de seu território em prol de um acordo. Tal postura marca uma ruptura em relação ao consenso ocidental anterior, que condenava quaisquer ganhos territoriais pela força. Sob Trump, parece prevalecer uma visão pragmática (aos olhos de seus defensores) ou cínica (segundo seus críticos): sacrificar princípios de integridade territorial para encerrar hostilidades rapidamente e garantir benefícios econômicos imediatos.
Em termos teóricos, essa inclinação por validar conquistas territoriais pela força remete ao conceito de Realpolitik e ao darwinismo geopolítico que influenciou pensadores como Ratzel. Na concepção orgânica de Ratzel, Estados em expansão naturalmente absorvem territórios vizinhos quando têm força para tal, ao passo que estados em declínio perdem território – um processo quase biológico de seleção do mais apto [11]. A aceitação trumpista de que a Ucrânia “dê algo” a Moscou para selar a paz reflete uma normalização desse processo de seleção geopolítica: reconhece-se ao agressor (Rússia) o “direito” de manter terras conquistadas, porque assim ditam as realidades do poder no terreno. Já Mackinder, embora firmemente contrário a deixar a Rússia dominar o Heartland, enxergaria nesse resultado a consequência lógica do desinteresse das potências marítimas (EUA e Reino Unido, por exemplo) em sustentar o contra-ataque ucraniano. Sem o envolvimento ativo do poder marítimo para equilibrar a disputa, o poder terrestre prevalece no leste europeu.
Do ponto de vista de legitimidade internacional, a entrega de territórios ucranianos – seja de jure ou de facto – cria um perigoso precedente no pós-Guerra Fria. Recompensar a agressão violenta com ganhos territoriais pode encorajar estratégias semelhantes em outras partes do mundo, minando a arquitetura de segurança coletiva. Trata-se, possivelmente, de um retorno a um mundo de esferas de influência, em que as grandes potências definem as fronteiras e zonas de controle conforme sua conveniência, algo que a ordem baseada em regras depois de 1945 tentou evitar. Aqui, a imparcialidade acadêmica requer notar que a coerção para concessão territorial raramente produz paz duradoura, pois a parte lesada – no caso, a Ucrânia – pode aceitar temporariamente, mas continuará reivindicando seus direitos no longo prazo, assim como ocorreu com outras injustiças territoriais na história.
Ambições territoriais de Trump: Groenlândia e Canadá
Para além do teatro de guerra eurasiático, Trump reviveu ambições geopolíticas envolvendo territórios tradicionalmente aliados dos EUA: a Groenlândia (território autônomo da Dinamarca) e o Canadá. Já em 2019, no seu primeiro mandato, Trump causou espanto global ao propor comprar a Groenlândia – rica em minerais e estrategicamente posicionada no Ártico. Retornando ao poder, ele foi além: manifestou um “interesse renovado” em adquirir a Groenlândia e passou a sugerir publicamente a incorporação do Canadá como o 51º estado norte-americano [2].
Em janeiro de 2025, durante uma coletiva em Mar-a-Lago, ele chegou a mostrar mapas em que os EUA e o Canadá apareciam fundidos em um só país, enquanto a Groenlândia era marcada como futura possessão americana [2]. Postagens do presidente em redes sociais incluíram imagens satíricas com o mapa da América do Norte onde o Canadá estava rotulado de “51º” e a Groenlândia assinalada como “Our Land” (“Nossa Terra”) [2].
Tais movimentos foram recebidos com preocupação e incredulidade pelos aliados. O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, foi flagrado num microfone aberto alertando que a fixação de Trump com a anexação “é real” e não apenas uma brincadeira [7]. Trudeau destacou que Washington parecia cobiçar os vastos recursos minerais do Canadá, o que explicaria a insistência na ideia de absorção [7]. Em público, Trump argumentou que os canadenses “seriam mais prósperos como cidadãos americanos”, prometendo redução de impostos e melhores serviços caso se tornassem parte dos EUA [7]. Do lado dinamarquês, a reação à retomada do plano sobre a Groenlândia foi firmemente negativa – assim como em 2019 – reafirmando que o território não está à venda. Trump, entretanto, insinuou que a questão poderia ser de segurança nacional, indicando que a posse americana da Groenlândia impediria influências adversárias (referência à China e Rússia no Ártico) [2]. Mais preocupante, ele se recusou a descartar o uso de meios militares para conseguir a ilha, embora tenha garantido não ter intenção de invadir o Canadá pela força (no caso canadense, falou em “força econômica” para forjar uma união) [2].
Essa série de iniciativas reflete um ímpeto expansionista dos EUA sem precedentes em tempos recentes, ao menos no discurso. Analisar isso pelas lentes da geopolítica clássica oferece insights interessantes. Friedrich Ratzel e sua noção de Lebensraum sugerem que estados poderosos, ao atingirem certa predominância, buscam expandir seu território
influenciando ou incorporando áreas adjacentes. Trump, ao mirar no vizinho imediato (Canadá) e em um território estratégico próximo (Groenlândia), parece ressuscitar essa lógica de expansão territorial para ganho de espaço e recursos. Ratzel via essa expansão quase como um processo natural para estados com vigor, comparável ao crescimento de um organismo [11]. Sob esse prisma, os EUA estariam exercendo seu “direito” de expansão na América do Norte e região polar, integrando áreas de interesse vital.
Adicionalmente, a visão de Alfred Mahan sobre o poder marítimo ajuda a compreender o valor estratégico da Groenlândia. Mahan postulava que o controle de pontos-chaves nos mares e de bases navais garante vantagem global [9]. A Groenlândia, situada entre o Atlântico Norte e o Ártico, tornou-se cada vez mais relevante com as mudanças climáticas abrindo novas rotas marítimas polares e revelando vastos depósitos minerais (inclusive terras raras e petróleo). Para os EUA, ter presença ou soberania sobre a Groenlândia significaria dominar a porta de entrada do Ártico e negar esse espaço a rivais. Isso se alinha à estratégia Mahaniana de assegurar rotas comerciais e militares (no caso, eventuais rotas do Ártico) e recursos para consolidar a supremacia marítima. Por outro lado, a incorporação do Canadá – com seu enorme território, costa ártica e abundantes recursos naturais – daria aos EUA um reforço geoeconômico e geopolítico formidável, praticamente eliminando vulnerabilidades na sua fronteira norte. Trata-se de um projeto ambicioso que ecoa também ideias de Kjellén, para quem um Estado ideal deveria buscar completude territorial e autossuficiência econômica dentro de sua região. Incorporar o Canadá seria o ápice da autarquia regional americana, tornando a América do Norte um bloco unificado sob Washington (um cenário que lembra as “pan-regiões” concebidas por geopolíticos do século XX influenciados por Kjellén).
É importante notar, entretanto, que essas ambições enfrentam enormes obstáculos legais e políticos. A soberania do Canadá e da Groenlândia (Dinamarca) é garantida pelo direito internacional e ambos os povos rejeitam categoricamente a ideia de anexação. Qualquer ação hostil dos EUA contra esses países abalaria alianças e a própria ordem mundial. Ainda assim, o simples fato de um presidente americano sugerir tais possibilidades já produz efeitos geopolíticos: parceiros tradicionais passam a desconfiar das intenções de Washington, buscam apoios alternativos e fortalecem discursos nacionalistas de resistência. Em resumo, as intenções expansionistas de Trump na Groenlândia e Canadá reacendem antigas
questões territoriais e colocam os EUA paradoxalmente na posição de potência revisionista – um papel outrora associado a impérios em busca de colônias.
Implicações para o Brasil e a América do Sul: uma nova neocolonização?
Diante desse redesenho geopolítico impulsionado pelos EUA de Trump – com reordenamento de alianças e possível repartição de zonas de influência entre grandes potências – surge a pergunta: qual o impacto para o Brasil e os demais países da América do Sul? Tradicionalmente, a América Latina esteve sob a égide da Doutrina Monroe (1823), que estabelecia a não-interferência europeia na região e, implicitamente, a primazia dos EUA no hemisfério ocidental. No pós-Guerra Fria, essa influência se traduziu mais em liderança política e econômica, sem anexações formais ou dominação territorial direta. Porém, o atual contexto aponta para uma espécie de “neo-colonização” do Sul Global, em que potências maiores buscam controlar recursos e governos periféricos de maneira indireta, mas efetiva.
As teorias de Mackinder podem ser utilizadas para iluminar essa dinâmica. Como mencionado, Mackinder concebia o mundo do século XX como um sistema fechado, no qual não havia mais terras incógnitas a serem colonizadas – as potências, portanto, lutariam entre si pelo controle das regiões já ocupadas [3]. Ele previa que África e América Latina (na época colônias ou semi-colônias europeias em grande parte) continuariam como tabuleiros onde as grandes potências projetariam suas disputas, uma forma de neocolonialismo. No cenário atual, vemos os EUA propondo trocas de proteção por recursos (como na Ucrânia) e até líderes de países em desenvolvimento buscando acordos semelhantes. Um exemplo notável: o presidente da República Democrática do Congo, Felix Tshisekedi, elogiou a iniciativa EUA–Ucrânia e sugeriu um acordo análogo envolvendo as riquezas minerais congolesas em troca de apoio dos EUA contra rebeldes internos (M23) [19]. Ou seja, países africanos e possivelmente sul-americanos podem entrar nessa lógica de oferecer acesso privilegiado a recursos (cobalto, lítio, alimentos, biodiversidade) para obter garantias de segurança ou investimentos. Trata-se de um retrocesso aos tempos em que potências externas ditavam os rumos do Sul em troca de promessas de proteção, caracterizando um neocolonialismo estratégico.
Para o Brasil, em particular, esse rearranjo gera oportunidades e riscos. Como potência regional com considerável autonomia diplomática, o Brasil historicamente buscou equilibrar relacionamentos com os EUA, Europa, China e outros atores, evitando alinhamentos automáticos. Contudo, num mundo em que os EUA de Trump estejam ativamente redefinindo esferas de influência – possivelmente fazendo acordos com a Rússia que dividam entre si prioridades (por exemplo, Washington focando no Hemisfério Ocidental e Moscou no Oriental) –, a América do Sul pode voltar a ser vista como zona de influência exclusiva norte-americana. Sob tal perspectiva, Washington poderia pressionar países sul-americanos a se alinharem com suas diretrizes, limitando parcerias com rivais (como a China) e buscando acesso privilegiado a recursos estratégicos (como a Amazônia, água doce, minerais e commodities agrícolas). Alguns indícios já aparecem: a abordagem transacional de Trump mencionada por Nye incluiu pressões a Canadá e México por questões de fronteira e comércio, sob pena de sanções comerciais [19]. Não seria impensável uma postura dura em relação, por exemplo, às políticas ambientais brasileiras (ligadas à Amazônia) ou às relações do Brasil com a China, usando tarifas ou incentivos como alavanca – uma espécie de geopolítica da coerção econômica.
Por outro lado, o Brasil e vizinhos também poderiam tentar tirar vantagem da competição Sino-Norte-Americana. Se os EUA estiverem distraídos consolidando sua hegemonia hemisférica “hard power” (até com fantasias de anexação no norte), potências como a China podem avançar sua presença econômica na América do Sul por meio de investimentos e comércio (Belt and Road, financiamento de infraestrutura) – o que já vem ocorrendo. Isso configuraria uma disputa neocolonial indireta no Sul: empréstimos e investimentos chineses versus exigências e acordos americanos, lembrando em parte a disputa imperial do século XIX (quando Reino Unido, EUA e outros competiam por mercados e recursos latino-americanos).
Do ponto de vista conceitual, Mackinder talvez classificasse a América do Sul como parte da “Outer Crescent” (crescente insular externa) – periférica ao grande “World-Island” eurasiático, mas ainda assim crucial como fonte de recursos e posição estratégica no Atlântico e Pacífico sul. Se os EUA consolidarem um império informal nas Américas, estariam reforçando seu “bastião insular” longe do Heartland euroasiático, uma estratégia que Mackinder chegou a sugerir para as potências marítimas: controlar as ilhas e continentes periféricos para compensar a desvantagem de não controlar o Heartland. Entretanto, um domínio excessivo dos EUA no sul poderia levar a resistência local e alinhamentos alternativos, desequilibrando a região.
Kjellén acrescentaria que para o Brasil manter sua soberania decisória, precisará fortalecer sua autarquia e coesão interna – em outras palavras, reduzir vulnerabilidades (econômicas, militares, sociais) que potências externas possam explorar [4]. Já Mahan talvez apontasse a importância do Brasil controlar suas rotas marítimas e litorais (Atlântico Sul) para não ficar à mercê de um poder naval como os EUA. E Ratzel lembraria que estados que não expandem sua influência tendem a ser absorvidos por influências alheias – o que, no contexto do Brasil, não significa conquistar territórios vizinhos, mas sim liderar ativamente a integração sul-americana para criar um bloco mais resiliente à intromissão externa.
Em suma, a América do Sul se vê num mundo mais competitivo e segmentado, em que os grandes jogadores ressuscitam práticas de eras passadas. A noção de “neo-colonização” aqui não implica ocupação direta, mas sim mecanismos de dependência: seja via acordos econômicos desiguais, seja via pressão diplomática ou militar por alinhamento. O Brasil, como maior economia e território do subcontinente, terá de navegar com cuidado redobrado. Um novo equilíbrio de poder global, marcado pela divisão de esferas de influência entre EUA, China e Rússia, pode reduzir os espaços de manobra soberana dos países sul-americanos, a menos que estes atuem conjuntamente. Assim, a reflexão teórica sugere a necessidade de estratégias sul-sul, reforço de organizações regionais e diversificação de parcerias para evitar cair em “armadilhas neocoloniais” modernas.
Conclusão
A conjuntura geopolítica emergente pós-reeleição de Donald Trump sinaliza um retorno a princípios clássicos da geopolítica, após algumas décadas de predomínio de visões liberal institucionais. Vemos a revalorização de conceitos como esferas de influência, troca de proteção por recursos, poder naval versus poder terrestre, e disputas por território e matéria-prima – todos temas centrais nos escritos de Mackinder, Mahan, Kjellén e Ratzel no final do século XIX e início do XX. A análise imparcial desses eventos, à luz dessas teorias, mostra coerência interna nas ações de Trump: embora polêmicas, elas seguem uma lógica de maximização do interesse nacional e do poder relativo dos EUA no tabuleiro mundial, ainda que às custas de princípios e alianças estabelecidas.
Halford Mackinder nos lembra que, num mundo fechado sem novas terras para conquistar, as potências buscarão redividir o mundo entre si [3]. Isso parece se manifestar nos entendimentos diretos entre EUA e Rússia sobre o destino da Ucrânia, e nas ambições americanas no Ártico e no hemisfério ocidental. Alfred Mahan enfatiza que o domínio dos mares e de posições estratégicas garante supremacia – vemos reflexos disso na obsessão de Trump pela Groenlândia (Ártico) e na possível negligência da importância de manter a OTAN (e portanto o Atlântico Norte) coesa, algo que a teoria de Mahan reprovaria pelo risco de vácuo naval. Rudolf Kjellén e Friedrich Ratzel fornecem o arcabouço para entender a faceta mais agressiva do nacionalismo expansionista: a ideia do Estado como organismo que precisa crescer, garantir recursos e buscar auto suficiência explica desde o acordo extorsivo imposto à Ucrânia até a retórica de anexação do Canadá.
As possíveis consequências são profundas. No curto prazo, podemos assistir a um cessar fogo precário na guerra da Ucrânia, com ganhos territoriais russos consolidados e a Ucrânia atrelada economicamente aos EUA, mas sem proteção militar formal – um “paz armada” instável. A Europa Ocidental, alarmada, pode acelerar sua militarização independente, marcando talvez o início de uma autonomia de defesa europeia, conforme já se debate abertamente [1]. No extremo oposto do globo, o ativismo americano no Ártico e Américas pode remodelar alianças: países como o Canadá, outrora alinhados, podem buscar garantir sua soberania se afastando de Washington; potências como a China podem aproveitar brechas para se inserir mais na América Latina e África via diplomacia econômica; e países emergentes do Sul Global podem ter de escolher entre se submeter a novas “tutelas” ou fortalecer a cooperação Sul-Sul.
Em última instância, a situação atual reforça a relevância de estudar a geopolítica com lentes históricas. As ações do governo Trump indicam que, apesar de todo o avanço tecnológico e normativo, a competição por poder geográfico não desapareceu – ela apenas assumiu novos formatos. A imparcialidade acadêmica nos obriga a não julgar prematuramente se essas estratégias serão bem-sucedidas ou benéficas, mas a história e a teoria alertam que movimentos de cunho neo-imperial costumam gerar contrarreações. Como Mackinder insinuou, “cada choque ou mudança em qualquer parte reverbera pelo mundo todo”, e um movimento brusco de uma superpotência tende a provocar acomodações e conflitos imprevistos em cadeia. Resta acompanhar como os demais atores – inclusive o Brasil e seus vizinhos – adaptar-se-ão a esse novo capítulo da grande disputa pelo poder global, em que teorias centenárias voltam a ter surpreendente poder explicativo sobre os acontecimentos do presente.
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