O que esperar das CBDC’s?
Historicamente, o dinheiro vem de uma necessidade de mercado e não do governo. Antes da criação dos bancos centrais, o mercado se relacionava com trocas através de algo que possui valor - e continua acontecendo em locais onde o governo não consegue alcançar.
Com a chegada das CBDC’s (Central Bank Digital Currencies), os governos terão em mãos uma tecnologia que, sem dúvida, possibilitará inúmeras inovações no mercado financeiro. Diversos governos no mundo estão estudando maneiras de digitalizar o seu dinheiro e os motivos vão muito além dos R$0,32 de custo médio para a impressão de uma cédula física.
A CBDC da China
Podemos dizer que hoje os países estão em uma corrida contra o tempo para o lançamento das suas versões digitalizadas de dinheiro fiduciário, principalmente porque a China já está plenamente estabelecida como líder dessa corrida - o que é motivo de pânico para alguns governos.
Desde outubro de 2020, a China vem ampliando os usos e aplicações do e-CNY/e-RMB (também conhecido como Yuan Digital), e hoje já conta com uma rede de milhares de estabelecimentos comerciais, a indústria e até pessoas recebendo seus salários nesse novo formato. A China chegou até a fazer um airdrop da sua nova moeda para auxiliar na divulgação.
Além de simplesmente lançar uma nova moeda, a China criou também centros de pesquisa e desenvolvimento, alguns focados em cibersegurança para evitar hacks e fraudes nesse novo sistema. E todo esse esforço se dá justamente para avançar na sua estratégia de fortalecer o yuan frente ao dólar.
É questão de tempo para que a indústria chinesa comece a limitar os pagamentos internacionais, hoje feitos majoritariamente em dólar, e passem também a receber em yuan digital. Assim, internamente, diminuirão o esforço de efetuar câmbio porque receberão diretamente na sua moeda corrente.
O que as CBDC’s escondem?
Mas o que aparentemente é ótimo para o mercado e para o governo, esconde algumas particularidades que o governo não quer expor. E entre elas estão a possibilidade de monitoramento massivo e o controle da moeda diretamente nas mãos da população.
Mesmo os bancos temem perder parte do seu papel, uma vez que as pessoas poderiam voltar a armazenar seu dinheiro consigo mesmas. E haveria dificuldade para executar suas reservas fracionárias, já que o controle de emissão seria feito à partir de um blockchain e não haveria como criar dinheiro digital sem que seja emitido pelo próprio governo - a não ser que seja executada uma versão digital paralela, como uma espécie de tokenização ‘não lastreada’ da CBDC.
Meios de pagamento também terão de revisitar seus modelos de negócio, uma vez que e-commerces poderão receber diretamente a versão digital do dinheiro estatal. Por isso, num país como o Brasil, pode-se esperar muito lobby para que o governo inclua a participação de bancos e meios de pagamentos como serviços essenciais nessa rede, mesmo sabendo que grande parte dos seus serviços passariam a ser obsoletos e desnecessários.
Com o governo controlando o dinheiro digital, outras grandes preocupações passam a chamar a atenção. A privacidade tem sido um tema constante em debates sobre o assunto. E, além disso, os confiscos e taxações diretamente na carteira do cidadão poderão acontecer muito mais facilmente, uma vez que esse novo dinheiro é programável e executará regras previamente estabelecidas no momento em que qualquer transação ocorrer.
Alguns governos vêm ampliando a discussão ao redor do tema, tentando encontrar um ponto de equilíbrio entre a anonimidade e a transparência absoluta das transações. E muito embora tragam a discussão para a pauta, muitos acabam erroneamente (ou por interesse) concluindo que a criptografia necessária para garantir a privacidade das transações ainda não está madura o suficiente para ser adotada, desconsiderando tecnologias como Monero, Zcash, e outras, que tem a privacidade constituída como base dos seus protocolos.
Podemos concluir que as CBDC’s estão à caminho, mas existem diversas perguntas que só serão respondidas assim que suas implementações acontecerem. À nós, resta aguardar.